Tarde (Fragmento do Monumento a Olavo Bilac)

“O pensador” do Parque do Ipiranga 

Marina Brandão

“Tarde” é um fragmento escultórico parte integrante do Monumento a Olavo Bilac. Localizado na parte central e inferior do conjunto, esculpidos de forma integrada ao morro de bronze que culminava com o busto de Bilac, encontravam-se ao lado de “Tarde”, os fragmentos “Pátria e família” e “O Escoteiro”. Com o desmembramento do conjunto, as peças foram levadas para o Depósito Municipal da Várzea do Carmo junto com as demais, onde permaneceram por anos até que a municipalidade decidisse por sua reinstalação na cidade. Inicialmente unidas, “Tarde”, “Pátria e família” e “O escoteiro” foram separadas e tiveram destinos diferentes. Para que as peças se sustentassem individualmente foi necessário preenchê-las com concreto na sua parte posterior, uma vez que os fragmentos eram originalmente ocos. É possível notar nas extremidades de “Tarde” os pontos de transição do bronze para o concreto, bem como o apoio de pedras feito na sua parte dianteira, que proporciona uma maior integração ao local de sua instalação.

Segundo o portal São Paulo Passado, o ex-prefeito Jânio Quadros em seus dois mandatos na prefeitura (1953-1955 e 1986-1988) esteve diretamente ligado aos “desterros” dos fragmentos do Monumento a Olavo Bilac. Nos anos 1950, a primeira “leva” de monumentos foi reinstalada e movimentada pela cidade, como no caso do “Caçador de Esmeraldas” e do “Beijo Eterno”. Nos anos 1980, uma segunda “leva” dos fragmentos de Bilac foi reinstalada no espaço urbano. “Tarde” foi reinstalado no Parque da Independência em 1988. “Pátria e Família” foi colocado na Avenida Salim Farah Maluf, em 1987, no cruzamento com a Avenida Celso Garcia (e foi posteriormente movimentada para a Praça Kennedy, no bairro da Mooca,  em 1999). Por fim, o busto de Bilac foi reinstalado na praça da Av. Sargento Mario Kozel Filho, em 1988, próximo do Círculo Militar no Ibirapuera.

Popularmente conhecido como “O pensador”, pela semelhança com a obra de Auguste Rodin, o fragmento representa um homem agachado em posição introspectiva. O homem está rodeado de livros, entre os quais se lê “Tarde” em uma das capas em alusão à obra de Bilac publicada postumamente. O fragmento foi instalado no Parque da Independência, em 1988, podendo ser interpretado como a peça que se manteve mais próxima de uma relação entre o novo local de instalação e o contexto de concepção conjunto escultórico original, como parte das comemorações do Centenário da Independência em 1922. Instalada numa escadaria de pedra, que funciona como uma arquibancada, olhando para o Jardim Francês do Museu Paulista, a obra fica no nível do observador, sem a presença de um pedestal. É oportuno notar o contraste entre o pouco destaque da obra no conjunto monumental do Parque da Independência, que praticamente se camufla na escadaria de pedras, e a relação próxima entre os visitantes que interagem com o fragmento escultórico em virtude de sua ausência de pedestal. No seu entorno não há nenhuma sinalização que mencione a origem do fragmento e sua curiosa trajetória, deixando a “Tarde” quase como um ornamento desprendido de propósito: uma companhia para quem se senta na escadaria do Parque da Independência. 

Referências

  1. Sergio Brisola. Tarde. São Paulo: Descubra Sampa, 2018
  2. Janela da História. Monumento Olavo Bilac. 2019
  3. Jorge Miguel Mayer/Libânia Xavier. Janio Da Silva Quadros. São Paulo: CPDOC FGV.
  4. Douglas Nascimento. Monumento a Olavo Bilac. São Paulo Antiga, 2015. 
  5. Paulo Rezzutti. Jânio Quadros e o Monumento a Olavo Bilac. São Paulo: São Paulo Passado, 2010.