Aspiral do IV Centenário de São Paulo

O progresso de São Paulo desfeito em juta e gesso

Daniel Cruciol

O monumento da Comissão do IV Centenário de São Paulo, denominado ‘Aspiral’ ou ‘Voluta Ascendente’, é uma escultura concebida por Oscar Niemeyer que fazia parte das obras inaugurais do Parque do Ibirapuera na década de 1950. O projeto previa a construção de uma espiral crescente de concreto armado com um eixo inclinado que seria implantada em uma das entradas principais do parque, próximo à Oca. Sem base e com aproximadamente 17 metros de altura, sua geometria seria um contraste aos caminhos horizontais da marquise. Sua forma inusitada simbolizava o crescimento vertiginoso da cidade.

Mais do que um monumento, o desenho de Niemeyer virou um símbolo para o que seria o mais importante evento festivo da década. Imagens da Aspiral estampavam posteres, medalhas, moedas, bandeiras e até embalagens de doces. Algumas casas construídas no período possuíam ornamentações com a forma da escultura em sua fachada ou em cobogós. Durante as festividades do IV Centenário, foram distribuídos souvenirs com o formato da voluta para figuras importantes, como pequenas miniaturas e broches.

E o que aconteceu com esse monumento? A resposta é simples: caiu. Por um tempo, especulou-se sobre o que teria motivado a queda da estrutura. Enquanto alguns diziam que foi por erro de cálculo, outros diziam que foi um colapso na haste central. Há quem diga que a obra não era exequível com o material escolhido, que a técnica no período não era suficiente e seria necessário trocar o material para algo como aço. O fato é que, algum tempo depois de ter sido inaugurada, a estrutura não aguentou e cedeu – não se sabe exatamente quando.

O projeto de Niemeyer passou pelo cálculo de dois engenheiros, Zenon Lotufo e Walter Neuman. Durante esse processo, foram feitas algumas alterações na inclinação da escultura, já que não seria possível construir a Aspiral à 45º em relação ao chão, como determinara o arquiteto em sua concepção. Assim, optou-se por construí-la com 60º de inclinação e espessura de dois centímetros. Segundo depoimento de Mauricio Warchavchik, os pedreiros cobriram a espiral com quatro centímetros de concreto e não dois, como havia sido determinado. Faltando dois dias para a grande festa, a estrutura foi determinada como não exequível em concreto e Neuman decidiu construir a espiral com outro material. A haste foi erguida e a espiral em armação de ferro foi posta no lugar, cobrindo-se o conjunto com juta e gesso.

A festa de inauguração foi um sucesso. O monumento resistiu, foi fotografado e aclamado. Até que um tempo depois, em uma chuva torrencial, a cobertura se desfez e com água foi se desmanchando a representação do progresso de São Paulo. Após o ocorrido, a prefeitura garantiu a reconstrução do monumento, mas aos poucos esta promessa foi caindo no esquecimento. Sua estrutura, que possivelmente estava enferrujada, foi retirada. Mauris acredita que a fundação ainda se encontra enterrada no parque, como um testemunho do que já esteve ali.

O monumento ainda existe em suas mais variadas representações – nas fotos, nas miniaturas – e na memória de quem presenciou o IV Centenário. Menos no que seria sua ‘forma final’ no local e na escala em que foi projetado. Há grupos que defendem a restituição da Voluta, já que a técnica atual permite a construção inclusive com a angulação determinada por Niemeyer. E há quem prefere guardar a ironia presente na história do que foi um dia o símbolo da maior festa de São Paulo e representação de seu progresso, que terminou desfeito e enferrujado.

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