Mãe Preta

Controvérsias e apropriações

Texto: Isabela Leite. Modelagem 3D: João Generoso Gonzales. Pós-Produção: Luís Felipe Abbud, João Generoso Gonzales.

O Monumento à Mãe Preta gerou controvérsias e discussões desde a primeira vez que foi idealizado, na década de 1920. Já naquele momento houve uma tentativa de ressignificar e revalorizar a figura da mãe preta por parte do movimento negro, colando em debate a contribuição destas mulheres na formação nacional.

Ao menos duas propostas buscavam homenagear esta figura na época. Uma pela instituição do Dia da Mãe Preta, em 28 de setembro, data da promulgação da Lei do Ventre Livre, e outra pela construção de um monumento no Rio de Janeiro, capital federal na época, que chegou a ser pensado pelo escultor Yolando Malozzi. Mas sob protestos contrários e com a eclosão da Revolução de 30, o projeto foi deixado de lado até a década de 1950.

No dia 30 de janeiro de 1953, cinco dias após a inauguração do Monumento às Bandeiras, um memorial com cerca de 500 assinaturas solicitando a construção de um busto à Mãe Preta foi encaminhado à Câmara Municipal de São Paulo pelo Clube 220 – coletivo negro paulistano, então presidido por Frederico Penteado Jr., conhecido como Seu Ico. Pretendia-se que a homenagem ficasse pronta para o dia das mães do mesmo ano. No entanto, o processo demorou bastante, uma vez que alguns senadores e o então prefeito Jânio Quadros se posicionaram contra o monumento, e só foi aprovado em outubro do mesmo ano, em segunda instância.

Então, foi realizado um concurso de maquetes, vencido por Júlio Guerra sob o pseudônimo de Ibirapuera, um artista branco fortemente influenciado por Brecheret. Quanto à localização, como já havia sido sugerido pelo Clube 220, foi definido o Largo do Paissandu, pela simbologia para a comunidade negra devido a presença da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no local.

A obra foi inaugurada no dia 23 de janeiro de 1955 e serviu de encerramento para as comemorações do IV Centenário de São Paulo,. Essa foi a única escultura dedicada a figuras negras incluída nas comemorações, o que só aconteceu após muita insistência da comissão pró-monumento.

Na época, houveram algumas divergências a respeito da escultura, tanto pelas críticas já existentes às ações do Clube 220, quanto pela obra em si. Os traços modernos da obra foram vistos negativamente por críticos negros, como José Correia Leite que esperava que a Mãe Preta fosse imortalizada em linhas mais clássicas e acadêmicas, como outros monumentos já existentes na cidade dedicados à pessoas brancas.

Apesar das discussões, o monumento, junto à Igreja e ao Largo, tornou-se uma espécie de referência para parte da comunidade negra que realiza protestos e celebrações no Largo, depositando aos pés da escultura flores, velas e outras homenagens à Mãe Preta.

Referências

  1. Alexandre Araújo Bispo. Mãe Preta: Memórias E Monumentos Negros. Revista O Menelick 2º Ato, São Paulo, 2011.
  2. Maria Aparecida de Oliveira Lopes. As representações sociais da Mãe Negra na cidade de São Paulo. UNESP, São Paulo, 2007.
  3. Instituto Pólis. Quais histórias as cidades nos contam? A presença negra nos espaços públicos de São Paulo. São Paulo, 2020.
  4. Lúcia Klück Stumpf e Júlio César De Oliveira Vellozo. Um retumbante Orfeu de Carapinha’ no centro de São Paulo: a luta pela construção do monumento a Luiz Gama. Revista de Estudos Avançados, São Paulo, 2018.
  5. UNESP. 28 de setembro – Dia da Gratidão à Mãe Preta. São Paulo, 2018.

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