Monumento às Bandeiras

Deixa que eu empurro: da obra de arte ao palco de atos de contestação!

Texto: Renata Latuf Sanchez. Modelagem 3D: Laura Sayuri de Haro, Luís Felipe Abbud, Rodrigo Simões Ferraz do Amaral, Rogério Alves Rosa Junior, João Generoso Gonzales. Pós-Produção: Luís Felipe Abbud, João Generoso Gonzale.

O monumento às Bandeiras foi proposto pela primeira vez por Victor Brecheret, em 1920, em resposta a um concurso público em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Brecheret não venceu o concurso e o monumento não foi edificado na época. Em 1936, o projeto foi retomado e Brecheret apresentou uma nova versão ao Governo do Estado, que decidiu colocá-lo junto à entrada do então em idealização Parque Ibirapuera.

Nos anos seguintes, o monumento passou por diversas alterações até obter sua forma atual: uma versão geometrizante com referências art-deco, marcada pelo volume da canoa de monções e o movimento ascensional das figuras. Além disso, a escultura apontaria a noroeste, sentido da marcha bandeirante. A obra foi inaugurada em 1953 para as festividades do IV Centenário, juntamente ao Parque Ibirapuera e, por décadas, teve uma imagem positiva na opinião pública.

Nos últimos anos, no entanto, a imagem do Bandeirante desbravador e unificador do território vem dando lugar à imagem do Bandeirante que apresou e espoliou o território dos índios. Em 2013, a obra sofreu dois atos de protesto sucessivos, em manifestações contra a proposta de emenda constitucional (PEC) que retiraria do Poder Executivo a definição sobre a delimitação de terras indígenas e a passaria para o Congresso Nacional. Na manhã de 2 de outubro, apareceram as pichações ‘Bandeirantes Assassinos’ e ‘PEC 215 Não’. A obra foi limpada e, no dia seguinte, os manifestantes (maioria indígenas) reuniram-se no vão do MASP e marcharam até chegar ao monumento. Nele jogaram tinta vermelha, estenderam um pano vermelho e picharam mensagens de ódio aos bandeirantes. A cor representava o sangue dos povos dizimados durante as expedições às quais o monumento é dedicado. Em 2016, após um debate durante a campanha eleitoral, o monumento amanheceu novamente coberto de tinta, assim como a escultura do bandeirante Borba Gato. As recentes disputas acerca do significado do monumento despertam discussão em relação à memória que esse evoca, contrapondo o ufanismo e a valorização da obra de arte à crítica e tematização da barbárie por meio de atos radicais.

Referências

  1. Maria Rossetti Batista (org.) Bandeiras de Brecheret: história de um monumento (1920-1953). São Paulo: PMSP/SMC/DPH, 1985.
  2. Tadeu Chiarelli, Bandeirantes em movimento: entre disputas e conciliação, Arte Brasileiros, 09/jul/2020.
  3. Daniela Mendes Cidade, 3Nós3: arte como crítica politia no quotidiano urbano, Revista Gama, 2017.
  4. Inventário de Obras de Arte em logradouros públicos da cidade de São Paulo/ Monumento às Bandeiras. SMC/DPH.
  5. Monumento às Bandeiras homenageia aqueles que nos massacraram diz liderança indígena, Revista Fórum, 2013.
  6. Paulo César Garcez Marins, o parque do Ibirapuera e a construção da identidade paulista, Anais do Museu Paulista, v.6-7, 2003.
  7. Thais Chang Waldman, Entre batismos e degolas: (des) caminhos bandeirantes em São Paulo, tese de doutorado em antropologia (USP), São Paulo, 2018.

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