Monstrumentos SP

A palavra latina monumentum tem suas raízes no verbo monere que é comumente traduzida como fazer recordar. Mas seu sentido original, é de fundo religioso. Significa “revelar, predizer, sinalizar, avisar ou advertir”. Funções diretamente relacionadas ao oráculo da antiguidade, que revelava os perigos e por isso era especialmente sintonizado com os eventos nefastos, com as ameaças.

Monere, nessa acepção, era um indicação do mau augúrio, indício, sinal de um desastre que estava por vir. Não por acaso palavra acabou dando origem ao substantivo monstrum, “prodígio, mau presságio, aberração”, que está na base etimológica da palavra monumento.

Monumentos e monstros são, portanto, parentes próximos. E não só na etimologia. Os monstrumentos que ocupam a cidade enunciam, entre dedos em riste, espadas, cavalos e homens brancos fardados, a presença das forças sociais que os ergueram. E é contra elas que as ações ativistas se posicionam.

É no contexto, portanto, das lutas contra as desigualdades que atualizam o colonialismo e contra o apagamento das vítimas dos autoritarismos que essas modalidades de ativismo com foco no patrimônio se constituem e se organizam.

Alvo privilegiado dos confrontos, no Estado e na cidade de São Paulo, são os monumentos dedicados aos bandeirantes. Apesar da historiografia contemporânea ser rica em estudos críticos que esmiuçam sua associação com a escravização e genocídio dos indígenas, estão presentes não só em monumentos, mas em um complexo de ruas e estradas que compõem uma espécie de rede imaginária de sua presença tecido urbano paulistano e paulista.

É essa rede imaginária que faz dos monumentos uma espécie de arquivo distribuído da narrativa histórica do establishment, consagrando no espaço urbano aquilo que foi considerado memorável e promovendo uma determinada imagem pública da cidade. Discutir o seu significado, contestá-los, expandi-los é, portanto, reivindicar o direito à memória no espaço público e disputar o direito de ocupá-lo.

1 – Ensacamento (Grupo 3 Nós 3, 1979); 

2 – Monumento às Bandeiras (2016); 

3 – Anhanguera/ Marielle (2020); 

4 – Duque de Caxias/ @aparelhamento (2020).

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