Bernardo Fontes
Céus Numéricos
A pintura acadêmica construiu e sedimentou modos de representar a natureza a partir de regras formais que constituem padrões de idealização da paisagem, que se refletem na coleção do Museu Paulista. Esse perfil é tributário da ação do diretor do Museu Afonso d’Escragnolle Taunay que, a pretexto das comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil (1922), dedicou-se à montagem de exposições que pretendiam reconstituir o passado urbano de São Paulo. Conforme mostra um estudo das docentes curadoras do Museu, Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho, Taunay não apenas encomendava essas pinturas, como “dirigia” seus conteúdos, pautando desde a modelagem do céu até a distribuição dos elementos no espaço pictórico. Essas ações transcodificavam a idealização política de uma determinada natureza e índole paulista, consolidando padrões e retóricas visuais.
A identificação desses padrões feita no projeto demonumenta, foi utilizada na construção de um modelo que, por meio de aprendizagem de máquina, cria novas imagens que replicam as representações da natureza na coleção do Museu Paulista. Essas imagens, apresentadas nos vídeos desta seção, evidenciam as retóricas visuais do colonialismo histórico, mas também a proximidade de seus pressupostos com os fundamentos das metodologias da Inteligência Artificial, dependentes do estabelecimento de padrões, como o modelo StyleGAN2 utilizado. Nestas naturezas numéricas e suas ficções temos, portanto, mais que uma tradução algorítmica do colonialismo histórico. Nos seus procedimentos de decodificação estão enunciados também alguns elementos do colonialismo de dados da nossa época.
Floras numéricas
Os vídeos desta seção foram sintetizados por um processo de aprendizagem de máquina em uma rede neural (algoritmos interconectados capazes de reconhecer padrões e treinar algoritmos para a execução de tarefas). Esse modelo cria novas imagens, replicando os modos de representações da natureza presentes nas obras e documentação iconográfica do Museu Paulista adquiridas na gestão de Afonso d’Escragnolle Taunay.
