Casa do Grito

Reconstruções de uma casa de pau a pique

Isis Kanashiro J. A. Soares

Em 1 de agosto de 1969, o jornal Estado de São Paulo convidava seus leitores a visitar a Casa do Grito, na coluna ‘Não fique em casa domingo’, descrevendo-a como aquela que aparece no ‘conhecido quadro que retrata a cena (da Independência), de autoria de Pedro Américo’. A casa localiza-se ‘bem perto do lugar onde D. Pedro teria proclamado a Independência do Brasil’, ao lado do Monumento comemorativo do episódio. A modesta construção de pau a pique, ou taipa de mão, de 11 metros de frente e 9,75 metros de fundos é um exemplar da arquitetura e dos modos de construir do século XIX. Ao longo dos anos, a casa foi habitada por diferentes proprietários e seu documento mais antigo data de 1844.

Nas dependências da residência, encontravam-se originalmente salas, venda, três quartos, despensa e cozinha. Sabe-se que a casa recebia tropeiros que passavam pela rota de Santos, no Caminho do Mar, e funcionava como uma pequena estalagem e cocheira.

Desapropriada pelo poder público em 1936, ela foi relegada ao abandono. Essa situação se estendeu até 1955, quando foi proposto o primeiro restauro da edificação, inspirado pelas movimentações recentes do IV Centenário da Cidade de São Paulo. A iniciativa do jornal ‘A Gazeta’ e da Sociedade Geográfica Brasileira baseava-se na atribuição de um valor histórico às técnicas construtivas, bem como à sua situação especial em relação aos eventos históricos do país.

Ao fim da obra, a Casa do Grito foi reaberta em 1958. Dentre as alterações realizadas na edificação, uma chama a atenção: a criação de uma pequena janela na fachada voltada à Av. Dom Pedro I, a fim de associá-la à representação de Pedro Américo. A partir desse falseamento, a janelinha entre as duas águas do telhado ajudou a compor uma imagem que praticamente transportaria o visitante ao cenário da Independência. Quase trinta anos depois, a casa passou por um novo restauro a cargo do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Prefeitura Municipal de São Paulo. A nova intervenção, feita nos anos 1980, procurava corrigir os excessos cometidos anteriormente. A janelinha, então, desapareceu e seu programa como patrimônio edificado público passou a ser direcionado à ênfase na técnica construtiva do pau a pique.

Referências

  1. Luciano Monteiro. Casa do grito: o poder do museu casa e da mediação cultural no processo de elaboração da memória. Revista Mosaico – Revista de História, 2019.
  2. Museu da Cidade de São Paulo. MCSP/Casa Do Grito.
  3. O Estado de S. Paulo. Casa do Grito com a estrutura ameaçada. 1981.
  4. O Estado de S. Paulo. Não fique em casa domingo. 1969.
  5. O Estado de S. Paulo. Os ultimos meses. 1959.

Fotos

Deixe um comentário