Os “esquecidos” de Olavo Bilac
Daniel Cruciol
“Pátria” e “Via Láctea” são fragmentos escultóricos parte integrante do Monumento a Olavo Bilac. O fragmento escultórico “Pátria” faz alusão à poesia “A Pátria” presente no livro “Poesias Infantis” (1929) de Olavo Bilac. Esse escrito traz um sentimento ufanista e de exaltação da natureza, colocando o Brasil como uma terra inigualável. A obra está de acordo com o idealismo e nacionalismo presente nas literaturas infantis do momento, que tinham uma função pedagógica de ensinar o amor pelo seu país. Já “Via Láctea” homenageia a coleção de sonetos homônima do autor que, com temática amorosa, reúne textos inspirados no namoro de Olavo Bilac com a poetisa Amélia de Oliveira.
Esses dois fragmentos se encontravam assentados na colina central do monumento, com “Pátria” na parte frontal e “Via Láctea” na posterior. Tal colina foi destruída no processo de desmembramento do monumento, sendo preservadas apenas as porções próximas a esses fragmentos. “Pátria” tem a representação de dois corpos incrustados, duas figuras de feições femininas, uma como se estivesse deitada e outra escalando essa colina. “Via Láctea” tem a representação de uma figura com traços masculinos também nessa posição de escalada.
Após o processo de desagregação do Monumento a Olavo Bilac, em 1936, as partes foram levadas para o Depósito Municipal da Várzea do Carmo. “Pátria” e “Via Láctea” permaneceram nesse depósito até 2006, quando foram transferidos para o Depósito da Secretaria Municipal de Cultura no Canindé – onde permanecem até hoje. O não retorno à cidade desses fragmentos pode ser explicado pela necessidade da integração com a colina para o entendimento da tridimensionalidade. Fora desse conjunto, esses dois fragmentos não conseguem transmitir o mesmo entendimento espacial do monumento original. Mesmo que a colina tivesse sido preservada, sua presença ainda causaria um estranhamento pela falta das outras partes.
Esses dois fragmentos, juntamente com outro da mesma escultura (“O Escoteiro”), tiveram um momento de estada fora do depósito durante a exposição “Memória da Amnésia”, em 2015. A exposição ocorreu no Arquivo Histórico de São Paulo com a presença de outros fragmentos além dos pertencentes ao monumento em questão. A escolha expositiva para “Pátria” e “Via Láctea” é curiosa:optou-se por expor essas duas peças deitadas na horizontal, uma posição que subvertia a noção de monumentalidade que um dia esteve presente nesses fragmentos. Entretanto, tal entendimento já havia se desprendido desses fragmentos, tanto pela sua incompletude quanto por seus anos “esquecidos” no depósito.
De todos os fragmentos retirados do Monumento a Olavo Bilac, “Pátria” e “Via Láctea” são os únicos que não retornaram para a cidade desde 1936. Seja pela forma que foram retirados ou graças a algum preenchimento por distintos materiais, os outros componentes escultóricos se encontram alocados em pontos distintos da cidade. O tempo passa e esses fragmentos foram se acomodando no depósito e deixa-se de pensar em onde e como serão inseridos na cidade.
Referências
- Márcio Calixto. “Grandes Autores: Olavo Bilac – “Via Láctea XIII” (“Ouvir Estrelas”)”. ArteCult, 2020. (http://artecult.com/grandes-autores-olavo-bilac-via-lactea/)
- desVirtual, “Da seleção dos Monumentos”. 2016 (http://www.desvirtual.com/mda/2016/03/08/da-selecao-dos-monumentos/)
- Giselle Beiguelman. “Nomadismo e Invisibilidade”, 2016. (http://www.desvirtual.com/mda/2016/03/08/nomadismo-e-invisibilidade/)
- Era Uma Vez, Revista online de literatura infantil. “A Pátria – poema de Olavo Bilac”, 2011. (http://eraumavezuem.blogspot.com/2011/08/os-autores-consagrados-na-historia-da.html)
- Douglas Nascimento.“Monumento a Olavo Bilac”. São Paulo Antiga, 2015. (https://saopauloantiga.com.br/monumento-a-olavo-bilac/)
- Álvaro Santos Simões Junior. “Via Láctea (1888): história (parnasiana) de uma paixão”. Navegações, 5(2), 123-125, 2012. (https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/navegacoes/article/view/12779/8540)
