Vitória política, derrota militar
Karoline Barros.
A Constituição de 1934 foi a anunciação de uma vitória política, de acordo com a narrativa dos paulistas. Pela chamada Revolução de 1932, os paulistas iniciaram um movimento na tentativa de recuperar o poder e a autonomia política perdidos com o início da Era Vargas, em 1930, sob o pretexto de exigir uma nova constituição para o país.
Sua derrota na batalha foi drasticamente ressignificada positivamente com a promulgação da Constituição, em 1934. Os paulistas passaram a utilizar o discurso de que, se não fosse a Revolução, a Constituição não teria sido promulgada. Tratou-se, portanto, de uma vitória política apesar da derrota militar. Segundo esta lógica de exaltação, facilmente suas vítimas foram transformadas em mártires.
Ainda em 1934, foi lançada uma Campanha Pró-Monumento aos Heróis de 32 para arrecadar fundos em todo o estado. Três anos depois, houve a escolha do projeto vencedor, o Obelisco Mausoléu aos Hérois de 32, do escultor ítalo-brasileiro Galileo Emendabili. Um longo período se passou sem que a verba e o apoio necessários para a construção da escultura fossem alcançados. Era previsto que o monumento fosse erigido na atual Praça Santos Dumont, na Avenida 9 de Julho, mas, com a proximidade das comemorações do IV Centenário da cidade, o local de instalação foi transferido para o Parque do Ibirapuera, que começava a ser implantado. A construção do obelisco teve início em 1945 e foi concluída na década de 1970, passando por diversas interrupções pela falta de recursos. A partir de 1954, com a inauguração do parque Ibirapuera, o mausoléu começou a receber os corpos dos combatentes trazidos de diversos cemitérios da cidade. Atualmente, contabiliza-se mais de 800 corpos.
Construído com tantas dificuldades e demora, a imponência do Obelisco é uma contradição clara ao atual status da narrativa de 1932 que, apesar dos inúmeros topônimos batizados em sua referência, tenta permanecer na memória de São Paulo.
Referências
- Rodrigo Gutenberg, Pesquisas de História. Sociedade Veteranos de 1932, sem data.
- Paulo César Garcez Marins, O parque do Ibirapuera e a construção da identidade paulista. Anais do Museu Paulista, 2003
- Walter Arruda de Menezes, Obras de arte em logradouros públicos de São Paulo: Regional Sé. PMSP/SMC/DPH, 1987.
- Matheus Moreira. Artista responsável pelo Obelisco do Ibirapuera completaria 120 anos hoje. Arte!Brasileiros, 8 de mai de 2018.
- Prefeitura de São Paulo. Monumento-Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932. Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa, Divisão de Preservação – DPH, 27 de mai de 2008.
- Helena Ayoub Silva. Restauro do Monumento ao Soldado Constitucionalista de 1932 – Obelisco do Ibirapuera. 13 Seminário docomomo, 2019.
- Edison Veiga. 9 de julho: as marcas em São Paulo da revolução por trás do feriado. BBC Brasil, 9 de jul de 2018.
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